abril 20, 1996

Orgulhosamente sós...

Ouvi por ai que já se iniciou o inesquecível e glorioso período em que o Bombarral comemora os “80 anos do Concelho” .
 
Como talvez alguns bombarralenses consigam perceber , o Bombarral não deu por isso .
A indiferença alheia não nos deve preocupar, porque quem está no Bombarral está de tal forma mergulhado num frenesim tão grande de actividades culturais , que nem tem tempo para pensar no que há-de escolher para a semana que vem entre esta onda desconcertante de exposições, teatro, cinema, danças, cantares e montagens de rua, que mostram o frenesim e justificam absolutamente este nosso contentamento da fome que dá em fartura .
Não há roteiro detalhado que nos indique o que escolher, não há cartaz ou brochura que nos informe o que visitar .
« Bombarral um Concelho de cultura » , será um dos titulos da imprensa no 100 º aniversário do Concelho . E este sim, será um aniversário que terá um roteiro detalhado dos acontecimentos mais significativos que se irão realizar durante todo o ano, as ruas do Concelho serão alegremente enfeitadas, as Bandas Filármonicas tocarão nos coretos, reconstruidos para o efeito, e os artistas do Concelho terão um sala de exposições permanente onde poderão mostrar as suas obras .
No entanto há boas noticías, chegadas durante este curto período que nos abandonou, é que pelo Bombarral aconteceram alguns espéctaculos culturais de monta, não oficiais, fomos visitados pelo fadista “Manuel de Almeida“ acompanhado por um elenco memoravél e pelo cançonetista “Quim Barreiros“com as suas canções populares, vimos exposições de “Artesanato Africano”, o artista bombarralense “António Gaspar“ expôs as suas aguarelas, sobre o tema : «Olhar para o Bombarral » , que nos fará recordar no futuro um Bombarral que tende a desaparecer, e a “Orquestra Ligeira do Exércio“ vai nos dar um espectáculo agradavél de musica clássica e sinfónica .
Gostaria de imaginar que terei contribuido em minha modesta porção, para tal fenómeno, mas era capaz de me estar a iludir .
Mas estas mostras são sazonais e só demonstram a ingratidão do publico: assim que desponta uma nesga de sol, vai tudo para fora em busca de outras mostras e outras culturas . Assim se demonstra o erro básico de toda a estratégia, não existente, para a divulgação da cultura do Concelho do Bombarral .

Como todos os produtos, o Bombarral, é de boa qualidade, desde que se aposte na credibilidade dos cidadãos, nos seus argumentos e na originalidade das suas acções, gerando uma mistura interessante de conflitos insólitos e criando um género que possa ser a transição para o Concelho Cultural e desenvolvido que todos ansiamos .
Não é, no entanto, possivél protagonizar só através de cidadãos anónimos cuja máxima excitação consiste em querer mostrar o melhor que podem e sabem o Concelho, todos os conflitos possivéis em mostras culturais como: a pintura, o sacro, a pré-história, o romano, o artesanato e os vinhos .

Se as entidades oficiais não forem protagonistas, teremos o trepidante espectáculo do Bombarral a olhar para o Bombarral, onde somente decorrerá um jogo de conflitos que nos fará sentir orgulhosamente sós .
«in Jornal Area Oeste»

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