agosto 20, 2012

Será que vale a pena ser emigrante

Meus amigos, antes de viajarem com qualquer intensão de emigrar para qualquer país, pensem se estão dispostos a abdicar da vossa vida e dos momentos importantes com as pessoas que fazem parte da vossa vida. E, principalmente se forem sozinhos, sem quem vos guie ou apoie.
Muitos não estão preparados. Pensam que emigrar para outro país é como ir a ali a outra qualquer cidade ou vila de Portugal. Pensam que viajando, vão conseguir uma melhor vida, conseguir um bom emprego, uma boa casa, um bom abono de família para os filhos.
Muitos pensam que será a mesma quantidade de horas laborais, mas com uma maior renumeração. Dinheiro fácil. Mas depois de chegar ao destino verificam que as coisas não são assim tão fáceis.
Todos conhecemos pessoas que não conseguiram estar mais de um ano fora de Portugal. As saudades são muitas, saudades da vida social que perderam, dos amigos, da comida, do clima, da mãe, dos irmãos, dos filhos, da mulher ou da namorada, dos vizinhos chatos. E dos copos e jantares até de madrugada…
Sim, de facto poderão ganhar mais dinheiro, mas perdem a qualidade de vida em certos casos. Muitos terão que obter por vezes dois empregos para sustentar as contas da casa, terão que dividir a casa com pessoas que não conhecem porque alugar um T0 ou um T1 sozinhos, simplesmente é impossível.
A vida rodará quase na sua totalidade em volta de casa-trabalho, trabalho-casa, e mesmo quando têm tempo para sair por vezes não vão poder porque os sítios que valem a pena são normalmente muito caros ou estarão muito cansados, acabando só por fazer um jantar de amigos, se já os tiverem, em casa ou encomendar uma pizza para degustar sozinhos
Os que partem vão encontrar outras culturas, outras línguas e por vezes o pior outro tipo de comida.
Os que partem deixarão de dizer bom dia á vizinha do lado, o padeiro deixará de ser o mesmo ou até, já não haverá padeiro para ninguém. Perderão os momentos especiais com a família e amigos. Os abraços nas horas felizes, os telefonemas diários só pra contar o que tiveram para o almoço, porque os telefonemas internacionais são caros. Um ombro amigo para chorar quando mais precisam ou simplesmente alguém para vos ralhar quando estiverem a fazer algo de mal. Alguém que vos entenda.
Poderão perder natais, aniversários, casamentos, idas á praia no verão, funerais, a semana da páscoa, aquelas brigas engraçadas entre familiares
Alguns poderão até ser esquecidos, porque alguns amigos só vos falam de ano a ano. Alguns até podem ligar durante alguns meses, mas com a distância até o maior dos amores acabará por morrer.
E os que conseguirem emigrar e ficar, irão de férias a casa e tudo parecerá estranho. A cidade ou a vila, entretanto mudou. Alguém resolveu construir algo novo á porta de casa, e já não saberão como apanhar o autocarro. Onde era antes uma papelaria agora é um café ou um chinês. O vosso café preferido fechou porque a dona do café morreu ou porque a crise a isso obrigou.
Familiares e amigos há que entretanto casaram e tiveram filhos. E já não reconhecerão ninguém. Uns porque estarão mais feios, mais bonitos, mais magros, mais gordos, mais pobres, mais ricos, …
Às vezes, acorda-se e apetece ir a “Alfama” beber uma bica, ou ao miradouro pensar na vida, mas depois apercebemo-nos que não podemos, porque estamos numa cidade que não tem sete colinas, com pastéis de nata e onde a bica ainda é a 50 cent.
Vai vos acontecer muitas vezes isto. Sentirem-se presos mesmo estando livres. Presos na vossa própria cidade. Nos vossos próprios sonhos.
Pensem muito antes de partir, Estejam preparados para estarem sozinhos sem o vosso apoio de sempre. Terão de arranjar outros apoios.
O Messenger e o faceboock salvar-vos-á algumas amizades. Manterão contactos com colegas que já não vem há muito tempo. Alguns irão surpreender-vos porque com o Messenger é como se a distancia não existisse e os anos não tivessem passado.
As relações amorosas serão sempre muito complicadas, porque lá no fundo vocês manterão o desejo de voltar um dia para o vosso ninho e o vosso amado pode não querer ir para a vossa terra. Alguns até sabendo que vocês são emigrantes podem não ser vossos por inteiro, porque sabem que o vosso amor tem um prazo de validade.
Será que vale a pena ser emigrante?
Pensem bem se vale a pena pelas experiências que terão, os conhecimentos que obterão, as diferentes culturas que irão conhecer, as diferentes línguas que aprenderão a falar. Isso não tem preço.
Mas e estar longe do vosso país, será que vale a pena ?

agosto 07, 2012

Quando gostamos de alguém

Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é díficil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem:  ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho, nem: ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada, nem: ai que não vi a tua chamada não atendida.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente.
Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro para nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso.
 
Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a cara amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais ou os filhos, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, nem a distância, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.