A declaração de vitória de Paulo Portas foi um prodígio de vácuo. Tirando dois fraquinhos sound bite, bastante abaixo das capacidades do grande produtor de efeitos especiais - as directas "foram a Primavera do CDS" e "se conseguirmos nada ficará na mesma na política portuguesa" - um cidadão ficava ontem sem perceber o que ganhou o partido com a troca.
Paulo Portas conseguiu não dizer rigorosamente nada na sua primeira declaração após o regresso à liderança: repetiu a intenção de captar o centro-direita para o CDS e fez uma espécie de teste de prevenção à habitual pancada que leva de boa parte das elites da esquerda e da direita, muitas vezes por boas razões: "Sei que na sociedade portuguesa há preconceitos contra este vosso amigo que aqui está. Vou lidar com eles com inteira naturalidade." O resto ,"o partido contemporâneo" é uma variante do "partido sexy", que António Pires de Lima voltou a explanar na última edição do Expresso. Uma coisa sedutora, de quem toda a gente gosta, vá lá saber-se porquê (enquanto programa ideológico, digamos que as duas definições são um achado).
Quem esperava alguma coisa de novo neste regresso de Paulo Portas, ficou ligeiramente desolado. Portas, afinal, não tinha nada de substancialmente grave para dizer. Para quem acredita que a personagem - no deserto que é a cena política nacional - ainda tem alguma coisa para fazer pela sua área política, coloca-se a questão de saber se Paulo Portas quer, efectivamente, dizer alguma coisa de novo enquanto líder partidário, ou se se vai limitar a gerir a crise do CDS (aliás velha de quase vinte anos) e utilizar o partido como plataforma para outros voos.
Há um lugar que está vago e, por acaso, tem lá inscrito o rosto de Paulo Portas: é o de opositor à direita de Aníbal Cavaco Silva nas próximas eleições presidenciais. Num dos programas em que comentava "O Estado da Arte", Portas deixou escapar que a direita pode, em 2011, estar sem candidato, se Cavaco Silva decidir fazer o caminho dos seus antecessores - conseguir ser eleito também pela outra parte do país que o tinha recusado à primeira. É evidente que a linha de coesão entre Cavaco Silva e o Governo deixará a direita aflita em 2011 - se, entretanto, nada ocorrer de estruturalmente novo na política nacional até lá. Reconheça-se que, prematuramente dada por adquirida, a possibilidade de o PS de Sócrates voltar a ter maioria absoluta em 2009 poderá situar-se neste momento em grande dúvida.
Se a vitória de Paulo Portas sobre Ribeiro e Castro deu a impressão de "esmagamento", diga-se em abono da verdade que Ribeiro e Castro teve uma excelente derrota: humilhado e ofendido desde o primeiro dia da liderança pelos partidários de Paulo Portas, Castro bateu-se nos últimos tempos com um misteriosa energia que lhe veio da oportunidade de travar um combate com "o desejado". Para um histórico precoce, remetido há anos para as franjas do partido e que veio do nevoeiro de Bruxelas no meio de uma crise de liderança e ganhou contra o aparelho, não esteve mal. O que lhe faltou em ambição na liderança, sobrou-lhe na tentativa de resistir ao inevitável. Não deixou o CDS em grande posição nas sondagens, mas deixou uma imagem caríssima à nação: uma vítima, acossada e séria. Pode ser que isso ainda lhe sirva para alguma coisa.
Ana Sá Lopes_Jornalista DN
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