maio 24, 2007

Há por ai uns malmequeres


Em 1972, na revista "Prá Frente Lisboa", Raul Solnado, fazia um desafio à censura, sobre a situação dos portugueses com uma canção que muitos já nem se recordam e a maioria nem sequer conhece:
"Português, ó malmequer/ em que terra foste semeado/ Português, ó malmequer/ Cada vez andas mais desfolhado".
Em 1973, José Viana, já falecido, na revista "Grande poeta é o Zé", vestia-se de anjinho e cantava, também desafiando a censura:
"... e lá vamos todos em procissões/ pagar impostos e contribuições/ porque só anjinhos somos nove milhões".
Antigamente, o regime assumia-se com a polícia política, as prisões sem culpa formada, os tribunais plenários e a prisão por delito de opinião.
Agora, nos últimos anos, em abono da verdade desde o último mandato de Cavaco Silva, e com excepção no período de Guterres, o poder assumiu a arrogância do antigamente. Faça-se, no entanto, justiça a Cavaco e a Guterres não há notícias de perseguições por razões políticas.
Hoje, mais de 30 anos após o 25 de Abril Portugal está transformado numa ditadura benévola.


Não há prisões políticas nem censura (?), mas há perseguições aos que desafiam o poder ou aos familiares dos que o fazem quando estes não são susceptíveis de perseguição. Não há censura, mas com jornalistas e cidadãos com contratos a prazo há auto-censura.

As revistas já não têm as audiências que tinham antigamente e os portugueses já não estão em terras de descobridores. Estão numa terra plena de anjinhos, harmoniosa, onde os malmequeres estão cada vez mais desfolhados. E até não têm em quem votar!

"Há para aí uns malmequeres/ Que andam a mudar de cor."

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