julho 01, 2007

O MEU REINO POR UM VEREADOR

Este é um artigo de opinião do Dr. Martim Borges de Freitas, ex Secretário Geral do CDS, retirado do "Jornal Semanário" que na minha opinião deve motivar, aos militantes do CDS, uma preocupada reflexão pela lucidez da análise.

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Há muitos anos que o CDS não tinha o privilégio de participar numa campanha eleitoral onde a pressão do voto útil é inexistente. Paulo Portas notou-o. Disse-o. E eu registei. Em 2005, até uma sondagem saiu na sexta-feira, antevéspera das eleições, ribombando um fantasmagórico empate técnico entre Carmona e Carrilho, quando, dois dias depois, os lisboetas haveriam de dar uma retumbante vitória a Carmona Rodrigues.
Depois, Portas declarou que estas eleições são um teste à sua liderança. Ninguém pediu para o fazer. Há mesmo quem questione por que o fez, quem diga que já chegou à conclusão de que escolheu voltar a liderar o CDS cedo demais e quem afirme que já percebeu que... interrompeu um ciclo para nada trazer de novo.
O facto é que Portas decidiu colocar a liderança em jogo. Deixando de lado o papel secundário a que sujeitou Telmo Correia, é preciso entender por que deu Portas esse salto. Em primeiro lugar, porque não resistiu: campanha do CDS liderado por Portas sem Portas como protagonista, não é campanha. Em segundo lugar, fê-lo declarando que o PS não pode ter maioria absoluta em Lisboa. Ora, até pelo número de candidatos em presença, será muito difícil ao PS obter maioria absoluta. Portanto, o que fica é que Portas, sabendo disto, aspira a que, ao PS, lhe falte um vereador para a maioria e que “esse” vereador seja o eleito pelo CDS. Daria para reeditar o seu velho discurso de que é o CDS quem impede as maiorias ao PS.
O que não consigo perceber é a tão defensiva, embora pareça tão ousada, estratégia de Paulo Portas. Porque é que o CDS só ambiciona eleger um vereador? Não foi em 2005, nas legislativas, que o CDS obteve quase 11% de votos no concelho de Lisboa? Não foi isso que se disse contra Ribeiro e Castro? Naquela altura, não era Paulo Portas quem liderava o CDS? E não era Telmo Correia o cabeça-de-lista do CDS-PP pelo círculo de Lisboa? Já para não falar da vantagem de, agora, não haver “oposição interna” a provocar desgaste ou a abrir deliberadamente incidentes em cima da campanha eleitoral. Porquê o medo e a contenção?
Paradoxalmente, Paulo Portas joga o seu nome nestas eleições, porque tem a noção daqueles números e porque pensa que ele é a única fórmula que resta para conseguir votos. Depois de o CDS ter obtido, já sob a sua liderança, o pior resultado de sempre na Madeira, Paulo Portas não quer que se repita o mesmo em Lisboa. Tudo, portanto, por um vereador e, de preferência, que esse vereador “impeça” a maioria do PS. O que é preciso, então, fazer? Preparar a opinião pública e o partido para que fique a percepção de que o CDS não vai eleger vereador algum. Porquê? Porque, elegendo um vereador, Portas terá o bastante para o seu discurso da noite eleitoral. É o déjà vu e habitual gestão das expectativas made by PP.
A verdade é que não há razão alguma para o CDS temer um mau resultado.
Se me apetecesse usar o mesmo grau de exigência que os actuais dirigentes usaram contra a anterior direcção nacional do CDS, eu diria que, sem pressão de voto útil e tendo presente os quase 11% das legislativas de 2005 na cidade de Lisboa, menos de três vereadores seria uma derrota para o partido. Mas, como receio os prejuízos da saída de Maria José Nogueira Pinto do partido e da forma como Paulo Portas conduziu o seu ataque interno e o regresso à liderança do mesmo, o mínimo exigível são dois vereadores em Lisboa. Acredito piamente nisto.
De resto – posso hoje dizê-lo agora sem constrangimentos –, a partir de um determinado momento, quando ainda exercia funções na direcção nacional do CDS, eu e outros, desejámos estas eleições intercalares que se iam perfilando como inevitáveis, também porque tinhamos a noção de que o CDS poderia crescer – e bem. Na estratégia e na linha que estávamos, então, a seguir, isso era um dado adquirido. Só a “oposição interna” atrapalhava. No exterior, estávamos claramente a crescer, capitalizando o trabalho e o prestígio na vereação.
Não me identifico, pois, com a estratégia tão defensiva, quase timorata, que o CDS está a seguir nestas intercalares, quando tinha todas as razões para jogar forte, com ambição e vontade, até porque, em 30 anos de poder local democrático e no tocante às grandes questões municipais, da sua acção na Câmara de Lisboa o CDS só tem motivos de que se orgulhar.

Lisboa, 29.06.2007
Martim Borges de Freitas(Vogal eleito do Conselho Nacional do CDS-PP)

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